Queria escrever uma coisa mais alegre hoje, e de repente, não perguntes porquê, a minha mente chamou a ti. Os meus olhos percorreram o vazio, encontraram o teu rosto, e ficaram fixos nos teus olhos.
Olhos de cumplicidade, de desejo ardente, fogo e proibição.
Tu aqui não entras nem entraras. Para ti sou porta fechada, sussurram os teus lábios, em tom etéreo, em palavras que nunca pronunciaste. Assim me fechas fora. Solidão? Nem por isso, nem para mim, nem para ti. Só desejo. Instantâneo? Não tenho certeza.
Quero ver outra vez o teu rosto, as tuas faces macias, o teu sorriso, generoso para todos, negado a mim. Negado? Também não tenho certeza, se calhar subtil desafio é o que lanças. Queres é uma ladra, aliás mandas-me ser uma ladra da treta. Ordenas-me para que te roube um beijo. Mandas-me, desafias-me, aproximas-te e afastas-te, pões-me doida a procurar um teu olhar, um toque casual, uma palavra, um gesto.
Aproximas-te, tantas vezes que cada uma delas dói. Sim, não te rias, dói, e dói demasiado, como aquele primeiro beijo, quando um acto social passou a ser a nossa intimidade. Quando, ainda com o “olá”, a encher a tua boca, acertei por acaso ao canto dos teus lábios. No primeiro momento que roubei aquele teu sabor, sem querer. Achas? Foram eternidades de êxtase estes fragmentos de tempo. Tocar os teus lábios de seda, ao canto da boca, um beijo fugitivo e fortuito e eu a morrer de doçura e suavidade. A procurar mais. A pedir, a suplicar. O tempo parou, ficaste tu e eu, o nosso beijo, o perfume da tua boca. Percebeste. As tuas mãos acariciaram as minhas costas, arrepiei-me, tentei agarrar os instantes do nosso abraço, apertei à procura do teu peito. Só senti o teu respiro. Suavemente me empurraste.
A tua primeira negação, fugiste e fiquei nas trevas.
PS Acham que a história deve continuar?